Autoficção
Dir. Ricardo Targino | Prod. Vania Catani | 100 min | Out/2025
História pessoal, identidade cultural, racismo ambiental e crise climática se entrelaçam no Vale do Jequitinhonha, região onde estão localizadas 18 das 20 cidades que mais aqueceram no país. Impactado pela mineração neocolonial de lítio, o Vale vive uma acelerada desertificação, um "cemitério climático" em construção. Neste documentário onde o pessoal se mostra universal, o gesto ficcional emerge como ato político, na construção dos futuros possíveis.
Da derrama colonial à atual outorga de milhões de litros de água por dia para a mineração numa região onde caminhões-pipa estão no cotidiano do povo, a vizinhança do Vale do Jequitinhonha não dorme, murmura, imagina e inventa futuros possíveis para as periferias globais marcadas para morrer.
O Vale do Meu Coração, Epicentro da Crise Climática
Aumento de Temperatura
O Vale do Jequitinhonha enfrenta aumentos de temperatura que excedem 2,5°C acima das médias históricas em algumas áreas.
Escassez de Água
Secas prolongadas, desertificação acelerada e grave escassez de água agravam problemas sociais existentes.
Racismo Ambiental
80% da mineração do país está concentrada em territórios predominantemente negros, perpetuando ciclos coloniais de exploração.
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Três Biomas, Três Séculos de Racismo Ambiental
Caatinga
Vegetação resiliente que prospera apesar da seca. Como os habitantes do Vale, se regenera a cada chuva. Suas plantas adaptadas—mandacarus, xique-xiques e juremas—incorporam a resistência.
Cerrado
Savana biodiversa ameaçada pelo agronegócio. Suas árvores retorcidas abrigam sabedoria ancestral enquanto suas bacias hidrográficas nutrem o Vale. Frutos nativos sustentaram gerações e inspiraram o artesanato local.
Mata Atlântica
Remanescentes de floresta costeira persistindo contra todas as probabilidades. Reduzidos a menos de 10% de sua extensão original, esses fragmentos verdes abrigam espécies endêmicas únicas.
Uma história que precisa mudar antes do fim
1
Século XVIII
Extração de ouro e diamantes. A riqueza fluía para Portugal. Pessoas escravizadas morriam nas minas. O ciclo do ouro enriqueceu a Coroa Portuguesa enquanto devastava rios e ceifava milhares de vidas negras.
2
Século XIX
Desmatamento para plantações. Comunidades tradicionais foram expulsas de suas terras. A Lei de Terras de 1850 formalizou a exclusão, impedindo que pessoas anteriormente escravizadas possuíssem terras.
3
Século XX
Barragens e projetos "desenvolvimentistas". Rios foram desviados. Territórios foram inundados. A Usina Hidrelétrica de Itaperica submergiu comunidades históricas.
4
Século XXI
Extração de lítio para "energia limpa". O verde da transição energética é vermelho-sangue. Operações contaminam a água, causam doenças respiratórias e continuam ciclos de exploração.
O Transe das
Identidades Raciais
45,3%
População Parda
Pela primeira vez, a população parda forma a maioria no Brasil, superando os 43,5% da população branca.
43,5%
População Branca
Percentual que agora representa o segundo maior segmento demográfico do país.
70%
Vale do Jequitinhonha
Percentual da população que é negra e parda na região, um epicentro da crise climática.
Essa mudança demográfica desafia estruturas sociais estabelecidas e leva o Brasil a refletir sobre sua identidade e cidadania em um país marcado por desigualdades raciais.
Uma Jornada Ancestral nos Escombros da Colonialidade
Partida do Brasil
O diretor deixa o Vale do Jequitinhonha, uma região rica em tradições africanas, carregando questões sobre identidade e pertencimento.
Chegada à Costa dos Escravos
O solo africano desperta sensações profundas além da razão—um retorno e uma descoberta simultâneos.
Diálogo com Ancestrais
Encontros revelam conexões que transcendem tempo e espaço: rituais compartilhados, gestos idênticos e palavras resilientes.
Retorno Transformado
Voltar ao Brasil traz uma nova perspectiva—o estrangeiro agora reconhecido como familiar, o familiar revelando origens além-mar.
O Vale do Lítio e o lítio do Vale na Vida do Povo
O que é Prometido
  • Desenvolvimento sustentável
  • Empregos e prosperidade
  • Transição para energia limpa
  • Progresso para todos
O que é Entregue
  • Exploração predatória dos recursos naturais
  • Trabalho precário e migração forçada
  • Contaminação da água, solo e ar
  • Lucros para poucos, perdas coletivas permanentes
Impacto nas Comunidades
  • Deslocamento forçado
  • Perda de territórios ancestrais
  • Desvalorização de terras
  • Pagamentos insuficientes
A Construção das Alternativas de Futuro
Justiça Climática
Tecnologias sociais mesclando conhecimento ancestral com inovação
Cultura Local
Preservação do conhecimento tradicional onde a arte serve como resistência
Agroecologia
Sistemas alimentares sustentáveis que respeitam a terra
Essas alternativas são tanto soluções técnicas quanto propostas políticas que desafiam os modelos de desenvolvimento dominantes. Elas existem nas comunidades hoje e podem ser expandidas como sementes de um futuro mais equitativo.